SÃO PAULO – Um grande espetáculo serviu como plataforma para o lançamento do Vale Cultura na noite desta quinta-feira (23), no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, na presença do presidente Lula, que assinou o documento que oficializa o envio do projeto de lei ao Congresso Nacional. O benefício, no valor de R$ 50, vai funcionar nos mesmos moldes dos vales-transporte e refeição e conta com apoio maciço da classe artística: Fafá de Belém, a coreógrafa Deborah Colker, Bruna Lombardi, Claudia Abreu, o cineasta Cacá Diegues e o clã Barreto – Luiz Carlos, Lucy e o filho, o diretor Bruno Barreto – foram apenas alguns dos presentes na cerimônia.
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O Vale Cultura será concedido através de um cartão magnético, em um mecanismo similar aos outros vales, e será aceito apenas em redes credenciadas, cadastradas junto ao MinC. Se não utilizar todo o crédito de uma vez, o trabalhador pode usar o saldo restante no mês seguinte. O foco do programa são funcionários que ganham até cinco salários mínimos, o que, segundo dados da Receita Federal, deve abranger 12 milhões de pessoas. O empregado contribui com 10% do valor do vale, o equivalente a R$ 5 por mês. Os 90% restantes ficam por conta da empresa, que terá o benefício fiscal de abater com este gasto até 1% do imposto de renda. Emocionado, Ferreira destacou o lançamento do programa como um “momento histórico”, uma “revolução” para colocar a cultura no centro do desenvolvimento do País. O ministro fez questão de reconhecer os pioneiros do projeto – o diplomata Sérgio Paulo Rouanet e o ex-ministro Gilberto Gil –, que primeiro pensaram nas vantagens da novidade. “Investir no consumo doméstico da família significa que serão gestados novos agentes culturais, novos artistas, criadores e poetas. Em pouco tempo, veremos que o espaço doméstico, até então conectado quase que exclusivamente à televisão, passará a ter também em seu interior outros atrativos.”
Um “cineminha” para ver “Lula, Filho do Brasil”
Acompanhado de perto pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula até fez graça com o fato da mestre-de-cerimônias, a atriz Zezé Motta, citar mais de uma vez no protocolo a presença da possível candidata à presidência em 2010. “Eu não vou ler a nominata porque a Zezé Motta leu tantas vezes o nome da Dilma Rousseff que se tivesse um juiz eleitoral aqui, a Dilma já estava prejudicada”, brincou.
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Lula abraça o cantor Chico César no palcodo Teatro Raul Cortez, em São Paulo
Se referindo ao Vale Cultura como uma “briga antiga”, Lula afirmou que o projeto é o primeiro passo para que “o povo brasileiro tenha acesso à cultura”. O presidente, no entanto, defendeu outras iniciativas para que o impacto seja mais efetivo. Como exemplo, elegeu a falta de salas de cinema e de teatro nas periferias como opção de entretenimento. “Cada vez fica mais difícil ir para o cinema por causa do transporte, segurança. O cidadão prefere sentar na frente da televisão e ver o que nós vemos, um misto de coisas boas com uma maioria de coisas ruins.” A solução, na opinião de Lula, não seria estatizar os cinemas ou construir salas públicas, mas iniciar o debate em busca de uma política que inclua definitivamente os habitantes das áreas mais pobres e afastadas, onde está a maioria da população, através de uma combinação dos poderes das prefeituras, governo federal e estadual.“Imaginar que um cidadão vai levantar lá nos confins do Judas, pegar um ônibus e levar duas horas para ir até o centro de São Paulo ver um filme é no mínimo não saber o conforto que é ficar na frente da televisão sem fazer nada.” E fez questão de citar “Lula, o Filho do Brasil”, filme biográfico de Fábio Barreto sobre anos de sua vida antes da presidência. “Um cineminha, Barreto, pelo menos para quando você terminar meu filme a gente ter esse prazer.” O carro-chefe do Vale Cultura são as estatísticas do IBGE, datadas de 2006, de que apenas 14% da população brasileira vão mensalmente aos cinemas, 96% não frequentam museus, 93% nunca foram a uma exposição de arte e 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança. Por isso, a ideia é que o projeto de lei chegue à Câmara dos Deputados em caráter de “urgência urgentíssima”, seja votado daqui a 45 dias e depois siga para o Senado em busca de uma aprovação em tempo recorde. “Espero que a gente consiga começar o ano com isso aprovado, porque depois também tem o processo cultural, que vai ter que ser trabalhado com os empresários, com os sindicalistas, na divulgação”, afirmou Lula. “É um trabalho que não é só do governo, mas dos artistas, da sociedade como um todo, para que as coisas possam acontecer.” IG
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