sexta-feira, 29 de julho de 2011

Por quê a Invasão na FUNARTE-SP

Por Suely Pinheiro - Reportagem Crítica

Diante dos acontecimentos provocados pela Invasão nas dependências da Fundação Nacional de Artes (Funarte/SP) e suas incertas conseqüências, por um grupo que se auto-intitula representante dos trabalhadores da cultura (e em seu nome), como jornalista profissional, em exercício, me sinto na obrigação de trazer a público algumas informações fundamentais que poderão contribuir sobremaneira na compreensão do que verdadeiramente está em jogo. Redijo essa matéria com a responsabilidade profissional de uma jornalista que em nenhum momento pode se afastar dos fatos, embora os mesmos estejam latejando em mim fragmentos de uma militância partidária de há muito, além de fagulhas de uma atividade paralela que exerço como produtora artística.

No mesmo local estive presente, neste mês de março cobrindo um encontro entre a cúpula do Ministério da Cultura (MINC) e os assim denominados “ativistas virtuais” e tenho à convicção de que o meu trabalho contribuiu decisivamente para o esclarecimento que se fazia necessário naquele momento, por isso, nenhuma vidraça foi quebrada e nossas vidas continuaram sem maiores percalços. Também, recentemente, estive neste mesmo local participando de encontro com o presidente da Funarte e os artistas de São Paulo onde não só presenciei e ouvi ameaças nada veladas, por sinal, de que prenúncios estavam por acontecer. E justamente por temer algo impensado e irresponsável que esteja a caminho, nos próximos dias, é que trago a público essas informações e alguma reflexão que espero poder dividir generosamente com quem se achar em condições de contestar o que se segue.

Fui editora do Jornal Macunaima, desde 1996 (tablóide impresso, com 27 edições, patrocinado pelos Programas de Pós Graduação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP/Araraquara, e Universidade Federal de São Carlos - UFSCar). Este início de trabalho foi interrompido, prematuramente, com o corte abrupto de verbas por parte do Governo Federal de então, especialmente após 1998, inviabilizando no meio acadêmico pesquisas nos diversos setores da Ciência e das Artes. Posteriormente, passamos a exercer nossas atividades acompanhando o rápido desenvolvimento do mundo virtual e dele nos valemos para criar e manter, até hoje, o Portal Macunaíma onde eu atuo como Editora e responsável. Neste trabalho quixotesco algumas questões se cristalizaram no meu envolvimento profissional com figuras que escreveram (alguns, ainda escrevem quando lhes é permitido) e, por isso mesmo, faço desse trabalho já realizado ancora para olhar e transmitir às centenas de jovens que foram contagiados pela atual febre da participação no Aqui Agora.

Dos entrevistados (na verdade, entrevistada) a que mais me chamou a atenção foi a de Lelia Abramo (este ano estaria completando 100 anos, se viva) que, além de grande artista, esteve à frente de um sindicato forte e representativo (Sindicato dos Artistas de São Paulo - SATED) não porque a Entidade tivesse uma conta bancária recheada, mas porque com sua voz rouca, já ultrapassando os setenta anos, ela sempre foi à síntese de sentimentos e das lutas importantes e que marcaram época. Por tudo isso, é inadmissível pensar que um dia Lelia Abramo se prestasse a este papel de afrontar um Governo, eleito democraticamente, e com mulheres como Dilma Rousseff; Ana de Hollanda; e Mirian Belchior, com arroubos pseudo-revolucionários (ou pior) enganar ou dissimular, contando histórias incompletas com intuito em tirar proveito e atingir ganhos políticos e financeiros imediatos. Inspirada nessa história recente, protagonizada não só pelos atores/personagens como Lélia (agora ausente), mas também por Renato Borghi e Etti Fraser (felizmente, ainda entre nós), além de Zé Keti (06 de outubro de 1921 - 14 de novembro de 1999 Rio de Janeiro) e João do Valle (Pedreiras, 11 de outubro de 1934 - São Luís, 06 de dezembro de 1996) que tive à oportunidade de acompanhá-los até os seus últimos dias, na quase miséria. É por esta razão que no momento me aventuro nessa matéria.

“Pingos nos is”:

1- É inequívoco que este movimento trará conseqüências, ou luta por conseqüências e resultados financeiros imediatos, para uma determinada empresa coletiva conhecida como Cooperativa Paulista de Teatro. Seu atual presidente foi enfático em duas de suas intervenções durante encontro com o Presidente da Funarte, Antonio Grassi, sempre em tom de ameaça, afirmando dramaticamente que algo aconteceria caso não fossem atendidas àquelas reivindicações (todas elas financeiras), num prazo curto. Mais tarde este mesmo dirigente, durante uma crise nervosa, provocou uma nova e inútil discussão com o responsável regional desse mesmo Órgão Público;

2- Apesar do inequívoco gigantismo dessa Empresa Coletiva, ela não tem representação política, de fato nem de direito, para falar em nome dos Produtores e Artistas de São Paulo, salvo para reivindicar pagamentos de contratos pactuados (se não pagos) pelo Poder Público (para seus associados, é claro). O temor de algumas pessoas com um pouco mais de informação, é a de que uma aberração política acabe se transformando numa aberração jurídica. Sendo esta a maior fornecedora de serviços, tanto para a Funarte quanto para o MINC, a Cooperativa Paulista de Teatro (tais dados podem ser conferidos no site do Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores - SICAF) não é minimamente razoável que ela utilize instrumentos de intimidação como os que estamos vendo na atualidade. Qualquer ato de “punição” dessa empresa pelos órgãos competentes poderá acarretar prejuízos incalculáveis a pessoas e grupos artísticos de uma hora para outra, o que significará um atraso de décadas na organização da produção artística e cultural;

3- Como jornalista e muito próxima de quem esteve e está ligado à história ainda não inteiramente conhecida, sinto-me no dever, ao menos como possibilidade, lembrar os envolvidos neste inútil e inconseqüente embate. Também como jornalista tenho ouvido pessoas dos diferentes setores do Poder Público (municipal, estadual e federal) e todos eles enfatizando o silêncio dos artistas, gestores e produtores culturais, mesmo os que balbuciem desaprovação a esses atos tão radicais. No entanto, o que nos pareceu óbvio e não levado a sério é o fato de às Entidades formais que representam de fato estes artistas, nos dias de hoje, não tenham a mesma força dos tempos de Lelia Abramo frente ao Sated/SP; Vanda Lacerda (1923 - 14 de Julho de 2001) - Sated/RJ); ou mesmo de empresários do setor, como Orlando Miranda (RJ) e Lenine Tavares, em São Paulo. Os artistas, sem representação formal que, em muitas vezes viram massa de manobra, não vêem por onde começar. É necessário, portanto, que não somente o Artista tenha que ir onde o Povo está, mas e também o gestor público se vê obrigado a ir onde o Artista está, até porque se locomover numa cidade tão complexa como São Paulo, mesmo de metro, torna-se uma aventura e mais se valoriza ao extremo os Meios de Comunicação virtuais. Isso, com certeza, é uma quimera;

4- E, falando em mundo virtual cito uma discussão que desde há muito vêm sendo travada no mundo inteiro a respeito dos efeitos de seu desenvolvimento, substituindo o teti-a-teti entre os atores/personagens da história recente. Sim, é verdade que estes instrumentos têm sido importante nos recentes acontecimentos mundiais, nas revoluções, e derrubadas de regimes autoritários, no entanto, não se trata de um fenômeno cultural, mas tão-somente político. A revolução cultural só acontece, quando o seu conteúdo muda a vida das pessoas e das massas. O conteúdo da realidade bem como sua representação não mudou significativamente com o avanço do mundo virtual, ao menos não na revolução que vêm ocorrendo na economia brasileira, esta que mesmo a Rede Globo tem registrado como mudanças de hábito e costumes da nova classe média. Portanto, eu pergunto que Revolução é esta apregoada por este movimento; que movimento cultural é este; que mudança econômica é esta proposta que a vida dos artistas tem aumentado o seu numero de dificuldades. Não é difícil detectar que não passa de um movimento político que valoriza a si mesmo, nada mais.

5- Para finalizar, desde já abrimos o Portal Macunaima para quem queira se manifestar, discutir e avançar, mas já aviso de antemão que não será um palco de disputa político-partidário. TODOS AO DEBATE.

Suely Pinheiro - Editora do Portal Macunaima

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